quinta-feira, 18 de junho de 2009

Stella, de Sylvie Verheyde


O drama francês Stella é uma daquelas pequenas jóias que aos poucos mostram a que vieram. Se num primeiro momento o filme parece ser ‘mais do mesmo’, até o seu final, a diretora e roteirista Sylvie Verheyde prova que uma mesma história pode ser contada de uma forma diferente, cheia de frescor e nostalgia.

Claramente autobiográfico, Stella é sobre as dores e alegrias de ser adolescente na Paris do final dos anos de 1970. A jovem protagonista, interpretada por Léora Barbara, vive no fundo do bar de propriedade dos pais, e não parece ter levado, até então, uma vida regrada. Ao ser admitida numa prestigiada escola para cursar o ginásio, a garota de 11 anos percebe que seu conhecimento sobre o mundo é bastante limitado e que precisa urgentemente crescer, se quiser sobreviver a esse universo.

Mas será que Stella quer se render a esse mundo? Talvez ela preferisse continuar como uma alienígena, fechada em seu gosto pelo futebol e música pop. Isso até ficar amiga de Gladys (Melissa Rodrigues), uma das garotas mais inteligentes da escola, filha de intelectuais argentinos, exilados na cidade. Quando a protagonista é apresentada à literatura, seu mundo ganha novos contornos, uma nova excitação.

Enquanto acompanha o processo de perda da inocência – real e metafórico – da menina, a diretora e roteirista complementa o ambiente que a cerca com personagens secundários cheios de nuances, como um freguês assíduo do bar dos pais, interpretado por Guillaume Depardieu (em um de seus últimos papéis) e os próprios pais de Stella (Karole Rocher e Benjamin Biolay), cujo casamento parece estar em constante crise.

Não só tematicamente, como também estilisticamente, Stella faz lembrar os filmes de Sofia Coppola, especialmente As Virgens Suicidas, com uma câmera leve e uma luz solar banhando as personagens nessa transformação da menina em moça, e mais tarde, em mulher. Também há um diálogo interessante com o também francês Entre Os Muros da Escola, ao abordar o sistema educacional francês e suas implicações na vida dos personagens.

A estreante Léora Barbara consegue transformar em plausível uma personagem tão elaborada, cheia de cacoetes e gracinhas, que pareceria existir apenas no cinema. E quando a trajetória de Stella chega ao fim, ela é outra pessoa. Sem abandonar suas origens, suas amizades do passado, ela está pronta para receber um futuro de braços abertos.

Nenhum comentário: