quinta-feira, 18 de junho de 2009

Caramelo, de Nadine Labaki


Boa parte da comédia dramática libanesa Caramelo se passa num salão de beleza em Beirute chamado Si Belle. O ‘B’ do letreiro da fachada está quase caindo; pendurada de cabeça para baixo, a letra resiste – tal qual a cidade e seus habitantes. Ao final, a roteirista, diretora e protagonista Nadine Labaki dedica seu filme “À Minha Beirute”, mas antes disso ela mostra que a vida continua, não importa quão inóspitas sejam as condições locais.

Como no francês Instituto de Beleza Vênus o salão de beleza é uma sinédoque, a parte pelo todo, e representa muito mais do que realmente é. Nesse microcosmos, um grupo de mulheres se reúne para se embelezar, e, entre uma escovada de cabelo e outra, fofocam, discutem problemas e sonham com uma vida melhor.

O que fica ao fim de Caramelo é mais a atmosfera do salão de beleza do que os dramas de cada uma das personagens. Layale (Labaki) é a dona, mora com os pais, e tem um caso com um homem casado – motivo de constante aflição. Jamale (Gisèle Aouad) é uma atriz divorciada que de tanto competir por trabalho com mais jovens não aceita envelhecer. Já Nisrine (Yasmine Al Masri) é uma muçulmana prestes a se casar preocupada com o que o noivo fará quando descobrir que não é mais virgem. Rima (Joanna Moukarzel) é uma funcionária que se apaixona por uma cliente, e há a Tia Rose (Siham Haddad), uma costureira, que abre mão de sua vida para cuidar da irmã com problemas mentais.

Também responsável pelo roteiro, Labaki está mais interessada em oferecer para os personagens e o público o consolo e a catarse que aquelas mulheres procuram no salão de beleza. O caramelo do título, usado para depilar, é também uma metáfora da vida dessas personagens – pode ser doce, mas também tem um quê de amargo, suave, mas duro.

O carinho que Labaki tem tanto pela cidade quanto por seus personagens consegue tirar o longa da vala comum, e até ganhar o perdão pelo uso de alguns clichês ao longo da trama. O mundo oferece a essas mulheres tristeza, dores, alegrias, medos, conquistas e derrotas, mas a amizade e a lealdade entre elas é o que as faz sobreviver a tudo isso com bom humor.

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