Ao longo dos anos de produção dos clássicos Disney é possível notar a influência de importantes fatos históricos. “Alô Amigos” e “Você já foi à Bahia?” foram realizados na época em que os Estados Unidos buscava o apoio dos países da América Latina na causa contra os Soviéticos. Uma evolução em particular me chamou a atenção. A forma como a mulher foi e vem sendo retratada pelos longas de animação da companhia é curiosa de observação e já foi até tema de monografia de um aluno na UFC. Neste post, me dedicarei exclusivamente a tratar das intituladas Princesas Disney. Se por alguma vez os meus comentários parecerem sexistas, peço desculpas antecipadas e peço aos (às) ofendidos (as) que se manifestem nos comentários.
Em 1937, a Disney produziu o primeiro filme inteiramente animado, “Branca de Neve e os Sete Anões“. Branca de Neve era tão bonita que despertava à inveja da Rainha, sua madrasta. Fugida do palácio após uma tentativa de assassinato, Branca de Neve conhece sete anõezinhos que trabalham em uma mina. Em troca de abrigo e proteção, passa a cuidar da casa, cozinhar e fazer outros serviços domésticos. A Rainha descobre o paradeiro da enteada e disfarçada lhe oferece uma maçã envenenada. Branca de Neve então cai em sono profundo até que seu Príncipe Encantado venha em seu resgate. Branca de Neve era o exemplo de mulher da época: bonita, delicada, servil, prendada, obediente e modesta. A vaidade feminina era condenada na figura da Rainha que proferia a todo instante: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?”.
Branca de Neve e os populares anões
“A Gata Borralheira” ou simplesmente “Cinderela” chegou às telas em 1950. Também criada pela madrasta, a moça é outra que sofre maus bocados. Obrigada a vestir trapos e trabalhar como empregada para a Madrasta e suas meio-irmãs, era chamada de Gata Borralheira por elas como pirraça. Sonhando com o Príncipe do reino, ela ganha da Fada Madrinha a oportunidade de ir ao baile. Cinderela mantém todas as características de Branca de Neve, inclusive o bom coração e o carinho pela natureza e animais.
Cinderela é que era mulher de verdade
Nove anos depois, foi a vez de outro conto de fadas ganhar um filme Disney. “A Bela Adormecida” contava a história de Aurora, uma jovem princesa ameaçada por uma bruxa má. Ao completar 16 anos, Aurora espetaria o dedo em uma roca e adormeceria até que o beijo de um príncipe a fizesse acordar. Prometida ao Príncipe Filipe, ela seria entregue em casamento mesmo contra sua vontade, mais uma prova da subserviência feminina ao patriarcado. O sono eterno prometido pela bruxa Malévola que só seria desfeito quando da chegada de um príncipe é mais uma prova de que, na época, mulher boa era mulher “morta”.
Naquela época, mulher boa era mulher “morta”
Trinta anos se passaram até que os estúdios Disney investissem suas fichas em uma nova princesa. É provável que a revolução feminina tenha afastado o tema da pauta do grande conglomerado de entretenimento que preferiu realizar produções sobre bichinhos. “A Pequena Sereia” estreou em 1989 e ao contrário de suas colegas anteriores, Ariel não levava desaforo para casa. Filha do furioso Rei Tritão, a sereiazinha desafiava o pai fugindo de casa para observar a terra firme. Ela se apaixona por um humano e termina por fazer um pacto com a bruxa Úrsula. Atrevida e desobediente, Ariel guarda muito da rebeldia adolescente dos anos 80. As coisas aqui começavam a mudar.
A Pequena Sereia: quase dá
para ouvir Madonna tocando ao fundo
Em 1991, “A Bela e a Fera” vira sucesso mundial. Bela vive na França e funciona como a salvaguarda do pai, um inventor motivo de chacota na aldeia. Independente e segura de si, a moça dispensa um pretendente cobiçado por toda a mulherada e ainda tem coragem suficiente para enfrentar a Fera que mantém seu pai prisioneiro. Bela mostrou que a mulher é bem mais que cozinhar, lavar e passar. Adoradora de livros, a moça era inteligente o suficiente para driblar o mal-humor do carrasco.
Representação da mulher dos
anos 90: inteligente, independente e chefe de família
No ano seguinte é a vez de Jasmine chamar a atenção em “Aladdin”. Filha de um sultão, a princesa é contra os protocolos da corte e se recusa a viver cercada pelas paredes do castelo. Ela sempre consegue um jeito de realizar suas vontades e acaba casando-se com o ladrão de rua Aladdin. Desde então a Disney trouxe outros perfis femininos de maior força, como Esmeralda de “O Corcunda de Notre Dame”, Pocahontas e Mulan, mas nenhuma delas ganhou oficialmente o título de princesa, motivo pelo qual não discorrerei sobre seus traços de personalidade.
Jasmine defende seus direitos
A parceria com a Pixar trouxe outros temas para os filmes da Disney e os contos de fada ficaram meio esquecidos. Talvez o perfil das crianças do novo século indicasse que elas já tinham superado temas tão pueris. A prova de que isso não ocorreu é o sucesso da marca “Princesas Disney”. O selo tem inúmeros produtos licenciados e ocupa lugar privilegiado entre os cinco temas de festas infantis mais procurados. Pelo visto, as mulheres podem sim ser independentes, modernas e continuar sonhando com um lindo palácio e um príncipe encantado vindo em seu cavalo branco.
Percebendo o poder de influência que o tema tem ainda hoje nas crianças, especialmente as meninas, a Disney prepara para 2009 dois grandes lançamentos. De volta aos famosos contos infantis, ela adaptará a história de Rapunzel ao cinema. O filme trará personagens em 2D em cenários tridimensionais. A outra animação promete fazer mais barulho. “A Princesa Sapo” terá como protagonista a primeira princesa negra do estúdio e contará as aventuras de Maddy que buscando o príncipe encantado em forma de sapo se transforma em um deles. A produção promete ser um retorno aos grandes clássicos já que será realizada toda em animação tradicional.
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