sexta-feira, 28 de outubro de 2011

'Os autores de quadrinhos são mais atrevidos', diz Maria de Medeiros

A atriz Maria de Medeiros (Foto: G1)
A atriz Maria de Medeiros.

Figurinha conhecida da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Maria de Medeiros já perdeu a conta de quantas vezes participou do evento, seja como atriz, diretora (“Capitães de Abril” saiu premiado em 2000) e até mesmo cantora. “Tenho grande gratidão por Leon [Cakoff], descobri muito de São Paulo e do Brasil graças a ele e a Renata [de Almeida]. Há uma dívida do cinema mundial com o trabalho de Leon. Ele trouxe um mundo a São Paulo e levou São Paulo ao mundo”, diz ao G1 a portuguesa, que dessa vez está na cidade para promover nada menos que três filmes: o curta “Mundo invisível”, “Fim de semana à beira-mar” e, principalmente, “Frango com ameixas”.

Esse último é inspirado no quadrinho de mesmo nome lançado em 2004 por Marjane Satrapi, autora franco-iraniana da HQ “Persépolis”, que rendeu um longa indicado ao Oscar. Dessa vez, a desenhista resolveu levar seus desenhos para o cinema com atores de carne e osso, como Isabella Rossellini e Chiara Mastroianni, que fazem participações especiais.

“Frango com ameixas” é inspirado na história trágica do tio-avô de Marjane, Nasser Ali Khan (Mathieu Amalric), um violinista conceituado que entra em depressão após ter seu instrumento musical quebrado pela esposa (Maria). A história do violino é ligada a um grande amor que ele teve durante a juventude, o real motivo pelo qual resolve deitar na cama e esperar a morte – a narradora do filme.

'Frango com ameixas' tem linguagem fantástica e lembra 'O fabuloso destino de Amélie Poulain' (Foto: Divulgação)
'Frango com ameixas' tem linguagem fantástica e lembra 'O fabuloso destino de Amélie Poulain'.

A história da vida de Nasser é contada por meio de flashbacks e devaneios. O humor domina o longa (o filho caçula é impagável), que flerta com a fantasia e traz uma linguagem teatral semelhante a de “O fabuloso destino de Amélie Poulain”. O filme, francês, não tem a força política de “Persépolis” e trabalha com metáforas para ambientar a Teerã de 1958, uma época marcante que teve a chegada ao poder de Mohamed Mossadegh. O nome da mulher por quem o violinista foi apaixonado é Irã, por exemplo.

“São diferentes”, discorda a atriz sobre a comparação com “Amélie”. “’Frango com ameixas’ consegue algo muito curioso e original, que é contar uma história, uma tragédia, em que você ri do principio ao fim. Há uma dimensão filosófica, com várias camadas de leitura, que não tem tem ‘Amélie Poulain’, que é delicioso. É uma outra profundidade, algo comum no cinema iraniano”, completa.

Nasser Ali Khan, na HQ e no cinema (Foto: Divulgação)
O violinista Nasser Ali Khan, na HQ e no cinema.

Curiosamente, “Fim de semana à beira-mar” também tem um quadrinista como diretor, Pascal Rabaté. Ousado, o filme homenageia Jacques Tati e não traz diálogos ao mostrar divertidos encontros de desconhecidos em uma mesma praia.

“Sei que Hollywood busca muito nos quadrinhos histórias para seus filmes de ação e de muita bilheteria, mas me interessa muito o movimento inverso, o dos criadores de quadrinhos trazendo para o cinema muita criatividade”, reflete Maria, que também já esteve em filmes brasileiros ("O contador de histórias") e americanos ("Pulp fiction").

“Eles trazem uma perspectiva muito singular, íntima e original para o cinema. A perspectiva que eu tenho é que há muitos anos quem manda no cinema é a televisão. Na Europa, o cinema é em grande parte financiado pela TV, então conscientemente ou não, a televisão dita suas normas e formatos, como certo tipo de enquadramento, de história, de personagens e de luz... São coisas que o cinema vai integrando. Os escritores dos quadrinhos vêm muito mais livres, eles são muito mais livres e atrevidos”, acredita.

35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Quando: de 21 de outubro e 3 de novembro de 2011
Informações e programação completa:
Central da Mostra: Conjunto Nacional (Paulista, 2073), das 10h às 21h, ou http://35.mostra.org
Quanto:
Permanente integral: R$ 390
Permanente integrante Folha: R$ 331,50 (para assinantes do jornal)
Permanente especial: R$ 90 (para sessões de 2ª a 6ª feira até às 17h55)
Permanente especial Folha: R$ 76,50
Pacote de 40 ingressos: R$ 285
Pacote de 20 ingressos: R$ 165

Ingressos individuais (adquiridos somente no dia da sessão)
Segunda a quinta: R$ 14 / R$ 7 meia
Sexta a domingo: R$ 18 / R$ 9 meia

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