O Oscar deste domingo (27) cumpriu aquilo que os seus produtores prometeram: inovação. Mas os culpados não foram os apresentadores James Franco e Anne Hathaway, vendidos meses atrás como exemplos da “próxima geração dos ícones de Hollywood”. Foram as tecnologias usadas na cerimônia - em que um dos favoritos era "A rede social", sobre a criação do Facebook - que trouxeram um sopro de novidade ao evento, repleto de citações ao Twitter e hits da internet e um cenário virtual.
Hathaway e Franco foram tradicionalistas até demais. A começar pelo início da apresentação, quando a dupla foi inserida digitalmente dentro dos filmes que estavam na disputa, como se atuasse neles. Essa brincadeira já foi feita pelo Movie Awards da MTV e por Billy Crystal em algumas das oito vezes em que foi anfitrião da cerimônia. Ao participar desta, a 83ª, ele arrancou em 1 minuto mais risadas do público do que os apresentadores oficiais em três horas.
Franco, que prometia horas antes uma noite divertida, só fez rir mesmo ao aparecer vestido de Marilyn Monroe e emendar em seguida uma piada com Charlie Sheen – assunto óbvio, que Ricky Gervais já tinha cutucado com mais força no Globo de Ouro.
Ao lado de Hathaway, James Franco usa celular para postar vídeos no Twitter durante a cerimônia.
Indicado por seu papel em "127 horas", de Danny Boyle, Franco foi na verdade mais cinegrafista do que apresentador. Passou a noite toda twittando e transmitindo o evento ao vivo pelo celular desde que pisou no palco. Em outra menção ao mundo da tecnologia e dos smartphones , Justin Timberlake “usou” um aplicativo para transformar o belo palco digital em cenário de “Shrek”.
Anne Hathaway veste terninho e James Franco encarna Marilyn Monroe em piada no Oscar.
Mas para mostrar que estão mesmo atualizados com a cultura pop/digital de hoje, os produtores da Academia apelaram para dois fenômenos do YouTube na premiação. O “Auto-tune news” apareceu em uma piada que transformou os filmes “Lua nova” e “Toy story 3” em musicais. Já o coral PS22 Chorus cantou “Over the rainbow” no final.
A ironia é que mesmo com tanta modernidade, “A rede social” não levou o principal prêmio da noite e saiu de lá só com os troféus de roteiro adaptado, trilha sonoral original e edição.
Kirk Douglas, a nova Betty White
Deixando de lado as traquitanas tecnológicas e os jovens apresentadores, quem se destacou mesmo neste Oscar foi a velha-guarda. A avó de Franco, na plateia, fez o comentário mais apimentado da noite ao dizer que estava emocionada por estar perto de Marky Mark, nome artístico de Mark Wahlberg, de "O vencedor", em seus tempos de rapper farofa.
Logo depois, o septuagenário David Seidler, vencedor de melhor roteiro original por “O discurso do rei”, esbanjava humor britânico em seu discurso de agradecimento. “Creio ser a pessoa mais velha a receber esse prêmio. Espero que este recorde seja batido logo, e frequentemente”.
David Seidler, roteirista de 'O discurso do rei', e Randy Newman, compositor de canção para 'Toy story 3', roubaram a cena dos novatos.
Mas será difícil discordar que o melhor veterano da noite tenha sido Kirk Douglas. Aos 94 anos, ele é o futuro candidato a fenômeno Betty White da vez (a apresentação dela no "Saturday night live" do ano passado bateu recorde de audiência e levou a atriz de 88 anos a ganhar um SAG e ser eleita a personalidade pop mais influente de 2010).
Douglas demonstrou muito bom humor ao apresentar o prêmio de atriz coadjuvante. Mesmo com a saúde frágil e dificuldades na fala, ele galanteou Anne Hathaway (“onde estava você quando eu fazia filmes?”), fez graça com a bengala e comentou que aquele momento foi inesquecível. Saiu ovacionado.
“A moral da história é: escute a sua mãe", finalizou em seu agradecimento Tom Hopper, melhor diretor por “O discurso do rei”, como se avisasse a Academia sobre a importância de não ignorar os mais velhos.
Homenagem a “E.T.”, um clássico
Ao receber o prêmio das mãos de Douglas, Melissa Leo (“O lutador”) soltou um palavrão censurado pela TV americana e que depois virou piada fácil para qualquer pessoa que subisse no palco. A boca suja da atriz e o stand-up de Douglas foram os únicos momentos em que o Oscar fugiu de seu tradicional script.
Daí pra frente, veio aquilo que se imaginava: o apoio democrata da Academia foi escancarado (com Obama sendo aplaudido ao dizer, em uma gravação, o seu tema de filme predileto), os favoritos ganharam os prêmios já esperados, a trilha sonora de “E.T. – o extraterrestre” foi homenageada mais uma vez e Steven Spielberg, sempre ele, anunciou o prêmio de filme do ano.
O trailer para ilustrar os dez finalistas utilizou o áudio do discurso final de “O discurso do rei”. A colagem da cena com a dos outros longas ficou realmente interessante, mas cantou de tal forma a vitória do filme de Tom Hopper que já não fazia mais diferença alguma desligar a TV antes que o envelope mais cobiçado da noite fosse aberto.
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