“Colin” é apenas o primeiro longa-metragem do galês Marc Price, mas por causa do orçamento mínimo, ganhou repercussão mundial. Com um investimento de cerca de 40 libras (US$ 70 ou R$ 115), o cineasta criou seu filme de zumbis, levou-o para o Festival de Cannes, conseguiu que ele estreasse em circuito comercial no Reino Unido e que chegasse a países como o Brasil.
“Colin” esteve em cartaz na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e estará no Festival Curta Fantástico, evento dedicado aos filmes de terror, fantasia e ficção científica. Na próxima sexta-feira (13), Price estará em São Paulo para, após a exibição de seu “pequeno filme de zumbis” (como ele mesmo diz), conversar com o público.
Banhado de muito sangue e pontuado por poucas falas, “Colin” conta a história de um jovem que é mordido por zumbis e se transforma em um deles. O filme acompanha sua peregrinação por uma Londres imersa no caos, onde os poucos humanos que restam tentam, a todo custo, manter-se humanos.
De Londres, onde vive atualmente, Price falou ao G1 sobre como filmou com orçamento tão restrito, de seu interesse pelo gênero terror e do sucesso de “Colin”. Leia, abaixo, trechos da entrevista.
G1 – Primeiro, a pergunta inevitável: ‘Colin’ custou mesmo apenas US$ 70?
Marc Price – Nós estamos, na verdade, falando em libras. Gastamos 45 libras, esse é o valor estimado. Não planejávamos gastar nada, mas acabamos gastando entre 40 libras e 50 libras –o que, convertendo, dá aproximadamente US$ 70 (ou cerca de R$ 115).
G1 – Como você gastou esse dinheiro?
Price – Tratava-se menos de quanto gastaríamos e mais de aproveitar o que tínhamos à nossa disposição. Principalmente algumas locações incríveis com as quais somos muito familiarizados... Nós sabíamos quando as ruas estariam silenciosas e filmávamos nessas horas. Eu ainda fui sortudo o suficiente de ter feito muitos amigos-atores quando me mudei para Londres. Esses caras, que se ofereceram como voluntários para interpretar zumbis e humanos, deram profundidade a seus personagens, independente do tamanho dos papeis de cada um.
G1 – E como você conseguiu todo o resto de graça?
Price – Nós tínhamos basicamente tudo de que precisávamos para fazer o filme. Eu não sabia nada sobre maquiagem no início, então pedi a maquiadores profissionais que trouxessem seus equipamentos, e em troca ofereci a eles liberdade total para criarem os zumbis que quisessem. As meninas da maquiagem foram incríveis, especialmente a Michelle Webb, que trabalhou em “X-Men 3”. Ela nos mostrou como fazer zumbis e deixou conosco seu equipamento para que pudéssemos continuar as filmagens.
G1 – Fale sobre a carreira do filme. ‘Colin’ foi distribuído em cinemas do Reino Unido, EUA ou algum outro país? Ou você tem apenas viajado por festivais?
Price – ‘Colin’ saiu em um número limitado de salas de cinema no Reino Unido e acabou de ser lançado em DVD. Muito mais do que eu jamais esperei! O que tem me deixado mais animado é que nosso pequeno filme de zumbis, filmado com uma câmera portátil de dez anos atrás, chegou aos cinemas. É o tipo de coisa que me deixa tão empolgado quanto um menino de 14 anos que sempre quis fazer filmes. Espero, mais que tudo, que os jovens, em seus quartos, também comecem a pegar uma câmera e a contar histórias. ‘Colin’ é um filme caseiro, e não há nada de especial na forma como o fizemos. Há milhões de pessoas que fazem filmes dessa mesma forma. Não sei ao certo por que nosso filme recebeu tanta atenção.
''Colin'' conta a história de rapaz que vira zumbi e perambula por uma Londres caótica (Foto: Reprodução)
Price – Nós usamos os objetos do cotidiano de casa e os adaptamos para criar os efeitos especiais de que precisávamos. Leigh Crocombe (que divide apartamento comigo e começou apenas ajudando, mas terminou sendo o responsável pelos efeitos especiais, além de aparecer no filme como um dos mais de 30 zumbis e humanos) criou um tijolo falso que podíamos jogar nos atores usando isopor e pó de cacau.
G1 – Por que você escolheu falar justamente sobre zumbis?
Price – Sempre fui fã dos filmes de Romero [George A. Romero, cineasta norte-americano considerado o mestre dos filmes modernos de zumbis]. Logo que mudei para Londres, com a ajuda de alguns amigos que se transformaram em zumbis, filmei o trailer de um filme falso. Foi tão divertido que eu decidi que queria mesmo fazer algo com zumbis, mas não conseguia pensar em nada original. Aí, cerca de um ano depois, tive a ideia de contar a história sob a perspectiva do próprio zumbi. Achei que havia muito a ser falado tanto emocionalmente, quanto como alegoria, e que pudesse divertir o público. Romero é o mestre dos comentários sociológicos por meio dos zumbis, então pensei que poderia usar um viés mais pessoal e olhar para o que significa ser humano. Espero não soar pretensioso. Queríamos fazer um filme divertido também.
G1 – Você acha que outros cineastas podem seguir seu exemplo e fazer filmes independentes com custos tão baixos? Isso pode eventualmente se transformar em um novo setor da indústria cinematográfica?
Price – Já há milhões de pessoas fazendo filmes exatamente dessa mesma forma. Apenas pegando uma câmera, filmando seus amigos e editando em seus quartos, em computadores velhos. Seria fantástico ver o lançamento de filmes que foram feito dessa forma. Adoraria poder ver mais.
G1 – “Colin” foi lucrativo até agora?
Price – Não fiz fortuna com “Colin”, e provavelmente não farei. O que o filme fez por nós até agora é colocar-nos em uma posição forte para o lançamento do próximo.
G1 – Quais são suas expectativas para a vinda ao Brasil?
Price – Estou tão aterrorizado pela reação dos brasileiros com relação ao filme como estive com qualquer outra plateia. Estou lidando com minhas inseguranças e tudo que eu quero é que o público não ache que assistir ao nosso pequeno filme é perda de tempo. Mesmo que o filme não agrade, que eles possam perceber que não estamos fazendo graça com o gênero e que queremos convencer os cineastas de que eles não precisam de muito dinheiro ou do melhor equipamento para contar suas histórias.
“Colin” – 4º Festival Curta Fantástico
Sexta-feira (13), às 21h, na Biblioteca Viriato Corrêa – Sala Luiz Sérgio Person (Rua Sena Madureira, 298 - Vila Mariana).
Após a sessão haverá debate com o diretor Marc Price.
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