Do simpático e amistoso "E.T.", de Steven Spielberg, aos implacáveis aliens de "Dia da independência", diversas naves espaciais já sobrevoaram os estúdios de Hollywood. Logo, como diz um personagem de "Distrito 9", nova investida extra-terrestre que chega nesta sexta aos cinemas do Brasil, todos esperavam que a próxima parada fosse Manhattan ou Chicago, mas o diretor praticamente estreante Neill Blomkamp foi mais criativo e resolveu estacionar sua nave-mãe em Joanesburgo, maior cidade da África do Sul.
Cena de 'Distrito 9', do diretor sul-africano Neill Blomkamp.
Produzido com um orçamento relativamente baixo - de US$ 30 milhões -, "Distrito 9" conseguiu atrair a atenção dos terráqueos graças a uma inteligente estratégia de divulgação de guerrilha pela internet, nos moldes do recente "Cloverfield" e do seriado "Lost", e uma ajudazinha e tanto do cineasta Peter Jackson, que assina a produção do longa. Fez os fãs de ficção-científica e quadrinhos delirarem na San Diego Comic-Con, meses antes da estreia, e logo no primeiro final de semana em cartaz nos EUA, em agosto deste ano, já conseguiu pagar o modesto investimento.
Narrado em forma de documentário - artifício que já havia sido usado por Blomkamp no curta "Alive in Joburg" -, o filme conta a história de uma nave lotada de alienígenas que enguiça sobre a metrópole sul-africana e obriga os humanos a fazerem contato sem saber muito bem o que lhes espera. Desnutridos e sem defesa, os ETs são então conduzidos ao solo e confinados em uma área restrita nos subúrbios de Joanesburgo batizada de Distrito 9. A primeira reação é politicamente correta, de adaptação à presença alienígena, mas, quando percebem que 20 anos se passaram e as criaturas não têm como tornar à casa tão cedo, os humanos mostram a sua cara e começam a arquitetar um plano para se livrar delas.
Num paralelo claro com o Apartheid, regime de exclusão racial que vigorava na África do Sul quando Blomkamp era ainda criança, o Distrito 9 é não só uma área cercada e militarmente controlada mas uma grande favela a céu aberto (as locações foram feitas em favelas reais da cidade) onde os invasores convivem - nada pacificamente - com quadrilhas de nigerianos garimpando o lixo e construindo de barracos a armamentos pesados com o que encontram pela frente.
É nesse cenário pouco amistoso que entra Wikus van der Merwe, um dedicado funcionário da gigante bélica MNU (Multinational United), interpretado pelo também novato Sharlto Copley, que tem como missão fazer com que os ETs assinem uma patética carta de aviso de despejo para que sejam transferidos a uma nova área a 200 km dali. Em uma dessas investidas, Wikus toma contato com um estranho artefato que faz com que seu corpo sofra uma mutação que o transforma no único humano capaz de operar as até então inacessíveis armas de destruição produzidas com a tecnologia de outro planeta. Caçado pela MNU e pelos nigerianos, ele terá de passar para o lado dos alienígenas para tentar se manter vivo e reverter o processo que ameaça transformá-lo para sempre em um não-humano.
Não é preciso ser um expert em ficção-científica para perceber que "Distrito 9" resvala em diversos clichês do gênero. A transformação de Wikus de homem à aberração lembra claramente os quadrinhos clássicos da década de 1960 - de Hulk a Homem de Ferro -, o visual dos aliens remete às criaturas da cinessérie "Predador" e a profusão de armas e explosões mirabolantes faz com que se imagine imediatamente um videogame que a qualquer momento pode aterrisar por aí. Neill Blomkamp compreende perfeitamente tudo isso, mas ao contrário de diretores mais experientes e de mão pesada como Michael Bay e Rolland Emerich, consegue costurar as referências com precisão preservando a boa história para além dos efeitos especiais. Seu robô-gigante feito de sucata tem muito mais alma e coração do que seus primos ricos e reluzentes de "Transformers".
Nenhum comentário:
Postar um comentário