Questionado sobre a inspiração para o roteiro de "Vila 21", o diretor argentino Ezio Massa disse que o escreveu em apenas quatro dias com toda "raiva e ressentimento" que a exclusão social em seu país lhe trazia. E é exatamente isso o que se vê na tela de seu novo filme, estreando apenas em São Paulo nesta sexta-feira (25).
Filmada em uma das mais pobres e violentas periferias de Buenos Aires, a produção retrata o cotidiano de seus moradores, marginalizados e excluídos. Mais especificamente dos jovens Fredy (Julio Zarza), Lupín (Fernando Roa) e Cuzco (Jonathan Rodriguez), que não veem qualquer alternativa à própria marginalidade.
A história tem início em 2002, pouco antes da estreia da seleção argentina (que venceu a Nigéria por 1x 0) na Copa do Mundo, realizada no Japão e Coreia do Sul. Os três rapazes, que vivem na Villa 21, terão que se conformar em assistir ao jogo atrás da vitrine de um bar.
Como são enxotados do local, acabam propondo um pacto: eles irão assistir à partida com conforto, frente a uma TV grande e colorida. Depois disso, cada um cria sua própria estratégia, não medindo esforços para que cada plano dê certo.
Cuzquito, o menor deles, ajuda uma idosa a carregar suas compras de supermercado, esperando conquistar sua confiança e assaltar sua casa. Já Lupín, gentil e mais sensível, pretende invadir uma loja de eletrônicos e ver o jogo em suas confortáveis poltronas.
Mas é ao plano de Fredy que Massa dá maior atenção. O jogo é apenas mais um pretexto para o jovem aplacar sua revolta autodestrutiva. Começa a trabalhar para um traficante, destrata o padre da comunidade, abusa da própria namorada e agride seus dois amigos.
Por meio da personagem, o diretor mostra que só se pode punir quem tem esperanças para serem frustradas; quem já é, pelo menos, um pouco bom. Fredy não é um desses. Não há remorsos, constrangimentos, as regras básicas de civilidade simplesmente não se aplicam a ele.
Com claras referências a filmes como "Cidade de Deus" (de Fernando Meirelles) e "Deprisa, deprisa" (de Carlos Saura), "Vila 21" acerta por seu realismo. O fato de a trilha sonora e o elenco virem diretamente da comunidade contribuiu muito para isso.
Inicialmente pensado para ser filme para TV, o roteiro de "Vila 21" não tem pretensão de falar sobre exclusão ou fazer uma crítica social direta. Mas é difícil não ficar sensibilizado.
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