quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Especial: Meryl Streep

“A melhor atriz da atualidade” pode parecer exagero, mas é assim que Meryl Streep é freqüentemente classificada, não apenas pela crítica, como também pelos colegas de profissão. Ela foi 13 vezes indicada ao Oscar e vencedora de duas estatuetas. A nativa de New Jersey, Mary Louise Streep (o Mary viraria mais tarde Meryl), desde a juventude esteve envolvida com a arte, motivo que a fez integrar a Yale School of Drama para aperfeiçoar o seu dom de atuar.

Desde seus primeiros filmes, Meryl foi ganhando relativa notoriedade e consolidando-se como uma atriz de peso. Sempre perfeccionista, ela se entrega a cada novo papel e brilha em qualquer que seja o tipo de filme. Ao longo de seus atuais quase 30 anos de carreira, o nome da atriz se tornou garantia de qualidade em uma produção.


Como a maioria dos atores iniciantes, Meryl se interessou pelas artes dramáticas nos tempos de faculdade e levou o interesse a sério. Seu primeiro papel no cinema, que arrancou muitos elogios da crítica, veio em 1977, no drama “Julia”. Embora interpretasse um papel coadjuvante nesse notável filme protagonizado por Vanessa Redgrave e Jane Fonda, Meryl conseguiu chamar atenção por sua atuação impecável. Esse trabalho seria apenas uma espécie de “aquecimento” por tudo o que ainda estaria por vir.

Intercalado por participações em filmes para a TV, o próximo trabalho de Meryl é “O Franco Atirador”, de 1978, onde interpretou Linda, uma mulher que desperta o interesse de dois soldados de um grupo que está prestes a ir lutar no Vietnã. Robert De Niro, Christopher Walken e John Savage também estão no elenco dessa produção que ganhou 5 Oscars e foi responsável pela primeira indicação de Meryl ao prêmio, esta na categoria Melhor Atriz Coadjuvante.

Em 1979, a atriz interpreta Joanna Kramer, um de seus grandes papéis, que lhe rendeu seu primeiro Oscar. O drama “Kramer versus Kramer” contava a história de um casal Ted e Joanna, que entra em crise porque o marido sempre coloca o trabalho em primeiro plano. Ao abandonar a casa, Joanna deixa o filho com Ted, que acaba tendo que ajustar suas prioridades para cuidar do garoto. O problema surge quando Joanna volta e exige a guarda do menino, levando o caso ao tribunal. Dustin Hoffman protagoniza ao lado de Meryl esse filme, que ganhou 5 Oscars e 4 Globos de Ouro.

Em 1981, outro grande papel aparece para Meryl em “A Mulher do Tenente Francês”, protagonizado por ela e Jeremy Irons. O casal interpreta dois atores que vivem um romance tanto na peça que estão encenando como também na vida real. Assim, os conflitos da relação ficcional e da real acabam se interligando. “A Mulher do Tenente Francês” permanece como um filme marcante na carreira de Meryl Streep e lhe trouxe a terceira indicação ao Oscar (Melhor Atriz).

Em 1982, a atriz protagoniza o drama “A Escolha de Sofia”, aclamado até hoje como um dos melhores dramas dos últimos tempos. Meryl interpreta Sofia Zawistowska, uma polonesa que agora vive nos Estados Unidos. Ela se encontra dividida entre dois amores, enquanto sofre com a lembrança tormentosa de seu passado, quando teve que fazer uma difícil escolha em um campo de concentração. Merecidamente, Meryl obteve sua quarta indicação ao Oscar e ganhou pela segunda vez. Kevin Kline também está no elenco desse filme, que ainda recebeu, além de outras 3 indicações ao Oscar, duas ao BAFTA.

“O Retrato de Uma Coragem”, de 1983, é o próximo trabalho significativo da atriz. O filme conta a história real de Karen Silkwood, uma mulher que lutou para expor práticas ilegais da empresa onde trabalhava e acabou morrendo sob circunstâncias duvidosas, dando margem à desconfiança de que ela tenha sido assassinada a mando da empresa. Kurt Russel e a cantora/atriz Cher também estão no elenco dessa produção que rendeu à Meryl Streep mais uma indicação ao Oscar.

No ano seguinte, a atriz atua ao lado de Robert DeNiro no romance “Amor á Primeira Vista”, história de Frank e Molly, duas pessoas que se conhecem ocasionalmente durante as compras de natal e sentem uma ligação especial. Eles se encontram meses depois e iniciam uma bonita relação, apesar de os dois serem casados. O elenco ainda conta com Harvey Keitel e Diane Wiest.

Em 85, ela novamente interpreta um papel marcante em “Entre Dois Amores”. Nesse drama, a atriz vive Karen Blixen, uma dinamarquesa que vai morar numa fazenda no Quênia após casar-se com um barão do café. O casamento dos dois é mais um acordo de conveniência e assim sendo, Karen acaba se apaixonando por Denys, um aventureiro inglês que aparece por lá. Robert Redford interpreta brilhantemente Denys nesse filme que ganhou 7 Oscars e rendeu a Meryl uma nova indicação ao prêmio.

O drama “A Difícil Arte de Amar” do diretor Mike Nichols é o próximo grande trabalho de Meryl. Nesse filme, ela contracena com seu grande amigo da vida real Jack Nicholson. Os dois interpretam jornalistas que se conhecem e logo estão casados. Apesar de achar que tudo está correndo bem, Rachel, a personagem de Meryl, descobre que seu marido a traiu e decide sair de casa. A história, escrita pela renomada roteirista Nora Ephron, teria traços auto-biográficos da autora.

Em 1987, a atriz dá uma brilhante performance no drama “Ironweed”, do diretor argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco. Novamente contracenando com Jack Nicholson, ela vive Helen, uma ex-cantora de rádio, que, junto com seu companheiro Francis, um homem atormentado por ter sido responsável pela morte do filho ainda bebê, vive numa situação de miséria à sombra de seu passado. O filme, baseado no livro de William Kennedy, fez com que Meryl Streep fosse, mais uma vez, indicada ao Oscar.

“Um Grito No Escuro”, de 1988, é outro drama marcante na filmografia da atriz. Lindy e Michael são um casal adventista que, durante um acampamento no interior da Austrália, afirmam ter tido sua filha recém-nascida levada por um cão selvagem. Devido à falta de provas, a população acaba desconfiando que o próprio casal teria matado o bebê por causa de fanatismo religioso. O filme deu a Meryl sua oitava indicação ao Oscar, além de lhe render o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes.

Em 1989, a atriz aparece na comédia “Ela é o Diabo”, contracenando com a humorista Roseanne Barr. Meryl interpreta Mary, uma escritora que desperta a paixão de Bob, marido de Ruth (personagem de Roseanne). Quando Bob decide abandonar a família para viver com Mary, Ruth decide elaborar uma mirabolante vingança e, para isso, contará com a ajuda de outras mulheres. Apesar de esse ser um dos filmes menos grandiosos da carreira de Meryl, a atriz ainda levou uma indicação ao Globo de Ouro pelo trabalho.

No ano seguinte, outro drama entra na filmografia da atriz. Em “Lembranças de Hollywood”, Meryl interpreta uma cantora country drogada e alcoólatra que volta para a casa da mãe (personagem de Shirley McLaine), ex-estrela de Hollywood, para tentar sair do fundo do poço e relatar seus laços familiares. O filme é o segundo trabalho da atriz com o diretor Mike Nichols e lhe rendeu outra indicação ao Oscar.

Em 1992, Meryl protagoniza outra comédia, “A Morte Lhe Cai Bem”, dessa vez ao lado de Goldie Hawn e Bruce Willis. A atriz vive Madeline, uma celebridade egocêntrica que rouba o marido de sua amiga Helen. Após se reencontrarem anos depois, Madeline percebe que Helen está mais jovem do que nunca e acaba descobrindo que existe uma poção da eterna juventude. O problema acontece quando Helen e Madeline, sob o efeito da poção, morrem e ficam num estado bastante peculiar. Meryl foi indicada ao Globo de Ouro por esse trabalho.

Em seguida, Meryl Streep atua em “A Casa dos Espíritos”, filme baseado no livro de Isabel Allende. A atriz interpreta uma mulher de sensibilidade aguçada numa história que aborda várias gerações de uma família no Chile, culminando com a revolução que depôs Salvador Allende. Um elenco de peso constitui essa produção, com nomes como Glenn Close, Jeremy Irons, Winona Ryder, Antonio Banderas e Vanessa Redgrave. Apesar de não ter ganho nenhum prêmio, essa é uma das performances mais marcantes de Meryl Streep.

Em 1994, ela volta às telonas no filme de ação e suspense “O Rio Selvagem”. A atriz vive Gale, uma ex-remadora e guia ecológica, que vai com o marido e o filho descer as corredeiras de um rio. A tensão começa quando dois homens juntam-se à família e mais tarde descobre-se que eles são criminosos. Kevin Bacon interpreta Wade, um dos bandidos e John C. Reiley interpreta seu parceiro. David Strathairn, ganhador do Oscar de Melhor Ator por “Boa Noite e Boa Sorte”, interpreta o marido de Gale.

No ano seguinte, Meryl faz mais um importante trabalho de sua carreira, o drama “A Pontes De Madison”, em que contracena com Clint Eastwood, que também dirigiu o filme. A produção conta a história de Francesca, uma mãe de família do sul dos Estados Unidos que se envolve com um fotógrafo enquanto seu marido e filhos estão fora. Francesca tem que fazer a difícil escolha de ficar com o homem por que se apaixonou perdidamente ou com a família já estruturada que tem. Meryl foi indicada novamente ao Oscar e ao Globo de Ouro.

Em 96, a atriz protagoniza, junto com Liam Neeson , o drama “Antes e Depois”. Eles vivem os pais de um adolescente acusado de matar a própria namorada que tentam encobrir as evidências do crime. Ainda no mesmo ano, Meryl atua no drama “As Filhas de Marvin” no papel de Lee, uma mulher que há muito havia saído de casa, mas precisa retomar os laços familiares quando descobre que sua irmã está com leucemia e ela pode ser sua doadora. Diane Keaton vive a irmã doente e Leonardo DiCaprio interpreta o problemático filho de Lee. Meryl foi, mais uma vez, indicada ao Globo de Ouro.

Em 1998, a atriz aparece no drama familiar “Um Amor Verdadeiro”. Meryl é Kate Gulden, uma mulher que parece ser muito feliz no seu casamento e tem dois filhos já adultos. Quando descobre que a mãe tem câncer, a filha de Kate, a jornalista Ellen (Renée Zellwegger), tem que ir cuidar dela contra sua vontade, já que leva uma vida profissional muito tumultuada e não se identifica com a vida de dona de casa. Aos poucos, entretanto, Ellen vai descobrindo que sua mãe é uma pessoa muito mais forte e interessante do que ela imaginava e que seu pai, um renomado professor universitário a quem ela sempre havia admirado, esconde aspectos vergonhosos em sua personalidade. O filme foi lançado diretamente em vídeo no Brasil, e Meryl foi novamente indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro.

E, em seguida, a atriz vive a professora de violino Roberta Guaspari em “Música do Coração”. O filme conta a história dessa mulher que lutou contra as dificuldades de ensinar música numa escola pública de Nova York, enquanto enfrenta os seus próprios dramas pessoais. Para o papel, que chegou a ser oferecido a Madonna, Meryl teve que aprender a tocar violino num período de 8 semanas, no qual ela ensaiava 6 horas por dia. Novamente e merecidamente a atriz foi indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro.

Após um período sem emendar grandes trabalhos no cinema, a atriz volta em 2002 no aclamado drama “As Horas”, filme cujo roteiro intercala a história da escritora Virgínia Woolf com outras duas mulheres em diferentes épocas. Meryl foi indicada ao Globo de Ouro por seu personagem Clarissa Vaughan e a produção ainda arrebatou muitos prêmios em diversos festivais pelo mundo.

Logo em seguida, no mesmo ano, a atriz também atua em “Adaptação”, filme que abusa da metalinguagem para contar a história de Charlie Kaufman (o roteirista real do filme), um escritor que tem que adaptar um livro para o cinema, mas não encontra inspiração. Meryl interpreta Susan Orlean, autora do livro que deve ser adaptado, numa performance que lhe deu outra indicação ao Oscar e ao BAFTA, além de ter ganhado o Globo de Ouro. Na época, surgiu inclusive a piada que dizia que a atriz também deveria ter sido indicada ao prêmio da Academia pelo filme “As Horas”, mas assim a atriz teria que concorrer com ela mesma e seria difícil escolher a vencedora.

Em 2003, Meryl estrela a superprodução em forma de mini-série feita para a TV americana, mas com porte cinematográfico, “Angels in América”, na qual a atriz novamente trabalha com o diretor Mike Nichols. O drama sobre pessoas que têm suas vidas interligadas por causa da AIDS contou com um elenco estrelar com nomes como Al Pacino, Emma Thompson, Mary-Louise Parker e Michael Gambon. Pelo trabalho, Meryl ganhou o Emmy (prêmio da televisão) e o Globo de Ouro na categoria Melhor Atriz.

No ano seguinte, ela aparece como a fria personagem Eleanor Shaw no suspense “Sob o Domínio do Mal”. A trama conta a história de Ben Marco (Denzel Washington), um ex-soldado que foi preso e sofreu lavagem cerebral durante a Guerra do Golfo. Quando um de seus ex-companheiros de tropa se lança como candidato a um cargo político, Ben tenta descobrir se ele está sob o efeito da lavagem cerebral. Meryl interpreta a mãe do candidato, uma mulher calculista e cheia de segredos, papel que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro e outra ao BAFTA.

Ainda no mesmo ano, a atriz aparece totalmente caracterizada na comédia fantasiosa “Desventuras em Série”, baseada nos livros de Daniel Handler. O filme conta a história de três irmãos que, após ficarem órfãos, têm que ficar sob a guarda do excêntrico Conde Olaf (Jim Carrey), um parente distante que na verdade está de olho na fortuna que as crianças herdarão. Meryl interpreta uma possível pretendente do inescrupuloso Conde Olaf. O filme ganhou o Oscar de Melhor Maquiagem, além de ter sido indicado em mais 3 categorias: Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora.

Em 2005, a atriz pode ser vista novamente nas telonas na comédia “Terapia do Amor”, protagonizada por Uma Thurman. Rafi (personagem de Uma) é uma mulher divorciada que, apesar de ter decidido não engatar um novo relacionamento, acaba se apaixonando por um pintor. O que ela não sabe, entretanto, é que seu amado é filho de sua terapeuta.

2006 se mostrou um ano bastante atribulado para a atriz. Além de ter feito um trabalho um tanto quanto diferente do que está acostumada, dublando a personagem que é a rainha das formigas na animação “Lucas, Um Intruso no Formigueiro”, Meryl atua ao lado de Lily Tomlin e da estrela teen Lindsay Lohan no drama “A Última Noite”, dirigido pelo veterano Robert Altman. A história, que mostra uma espécie de bastidores ficcionais de um programa de rádio, traz diversos personagens envolvidos em uma última apresentação do programa, que, por sua vez, também se vêem no meio de seus respectivos dramas e paixões pessoais. Essa produção ainda conta com outros nomes de peso no elenco estelar como Michelle Pfeiffer ("Deixe-me Viver") e Kevin Kline (“De-Lovely”). Além de Tommy Lee Jones ("MIB - Homens de Preto"), Lyle Lovett ("A Fortuna de Cookie"), Tom Waits ("Short Cuts – Cenas da Vida"), Maya Rudolph ("Como Se Fosse a Primeira Vez").

Para fechar o ano, Meryl protagoniza ao lado da jovem atriz Anne Hathaway a comédia “O Diabo Veste Prada”, filme baseado no livro homônimo de Lauren Weisberger, que transformou em best-seller sua trajetória como assistente de uma poderosa e intragável editora de moda (na vida real, Anna Wintour, editora da revista Vougue). Na trama, o emprego dos sonhos de uma jovem que está começando a carreira se torna um pesadelo, já que descobre que sua chefe de amável não tem nada. Meryl Streep interpreta a megera, num excelente trabalho de caracterização que envolveu desde o figurino ao penteado que exibe no longa. A brasileira Gisele Bündchen, em seu sua segunda performance em uma produção hollywoodiana, faz uma pequena participação na trama.

“A melhor atriz da atualidade” – repito – pode parecer exagero, mas aqueles que conhecem o trabalho de Meryl Streep podem perceber que isso está bem perto da verdade. Desde o começo de sua carreira, a atriz já mostrava que vinha pra ficar e, de fato, permanece até hoje como um talento incontestável. Até os que não são fãs de Meryl são obrigados a se render a essa mulher que é uma representante extraordinária do verdadeiro sentido da palavra atriz.

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